Sinto vontade se sair para a rua
E correr pelo Montalvão fora
Até entrar na baixa!
Vontade de me meter pela rua do Roma
E correr até alcançar a Biblioteca Municipal!
Por artes mágicas, trepar pela parede acima
E partir aquela janela que está atrás da secretaria
Das bibliotecárias,
Aquela onde elas têm os computadores
Com a lista dos livros,
Onde nunca estão os livros que eu quero
Mas que depois encontro na prateleira!
Apetece-me caminhar por entres as prateleiras
E ir abraçar as encadernações
Como se fossemos todos corpos nus em êxtase!
Sim, êxtase, porque a poesia me deixa high,
Me embriaga e me enlaça como se nada mais existisse.
Hoje quero-vos,
Oh grandes poetas de outrora!
Quero ler os vossos versos e chorar convosco,
Rir-me convosco,
Saltar convosco,
Revoltar-me convosco,
Emocionar-me convosco,
Viver e Morrer convosco!
Esta noite só a poesia importa,
Não sei explicar, não quero explicar,
Só quero poesar!
Quero ler até me doerem os olhos,
Até que as pálpebras se me fechem
E eu cabeceie e bata com a cabeça nas prateleiras
E me levante e corra, tropeçando,
Escadas abaixo,
Para ir molhar a cara ao lavatório!
Depois quero voltar e deitar-me no chão e ler mais e mais e mais!
Sentir que os versos se enlaçam em mim como tendões que se enrolam na minha carne!
Quero que as vossas palavras percorram o meu organismo como micróbios
Que corroem os meus órgãos e os devoram!
Por fim,
Quando mais não puder,
Quero desfalecer naquele chão de madeira velha,
E dormir, fundindo-me com a madeira,
Fazendo com que o meu corpo se torne parte
Daquele sitio que tanto amo e que me faz sonhar casa vez mais!
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