sábado, 29 de setembro de 2007

Art Is Dead





Descobri um novo ídolo, uma nova paixão, e o seu nome é Fernando Pessoa. Ou será antes Alberto Caeiro? Ou talvez Álvaro de Campos ou até, quem sabe, Bernardo Soares? Não interessa por qual destes nomes o chamemos, não deixa de ser genial.

É claro que já tinha lido Pessoa, afinal “Tabacaria” é um dos meus poemas preferidos, mas nunca tinha olhado para ele com este fascínio e admiração que me invadiram desde quinta-feira, graças à Canelas.

Tal como na “Geração de 70”, o que mais me fascinou no grupo de artistas do qual Fernando Pessoa fazia parte, juntamente com Amadeo Souza-Cardoso, Santa Rita Pintor e outros tantos, foi o sentimento e atitude geral do grupo. Eles eram todos novos quando se conheceram, pessoas normais (apesar de artisticamente brilhantes), unidas especialmente por um único factor, o amor à arte. Jovens artistas que se juntavam e, tal como as personagens que observamos em “Os Maias” de Eça de Queiroz, discutiam pintura, escultura, literatura, música, filosofia, etc. Eram pessoas que viviam para a arte e sofriam de todos os males que caminham de mão dada com esta; a melancolia, a depressão, a frustração, o desespero e especialmente a desilusão.

Ao longo da história da Humanidade existiram épocas de Guerra e de morte, de doenças e fome, de descobrimentos e conquistas, de paz e estabilidade, de revolução e descontentamento mas não houve, não há, nem nunca haverá nenhuma épocas melhores do que aquelas em que se valoriza a arte, acima de tudo. Em épocas como a de Eça e Pessoa, as pessoas eram fiéis à sua arte, sofriam por ela, viviam para os seus romances, as suas peças, os seus poemas, as suas esculturas, os seus quadros, as suas composições… Pessoas eram unidas pela Arte, construíam a vida em torno desta e morriam porque a sua arte não era compreendida.

A maioria dos elementos da “Geração de 70” suicidou-se ou morreu novo. Intitulavam-se os falhados da vida, mas quem alguma vez esquecerá Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão ou Antero de Quental?

Também os futuristas portugueses foram maioritariamente tomados por uma vaga de suicídios e não deixam, por isso, de ser relembrados.

Estes grandes portugueses, que por tão pouco tempo percorreram esta Terra, conseguiram em poucos anos fazer algo que a maioria não consegue em muitos. Eram jovens que produziam, que faziam coisas acontecerem. Eram pessoas que acreditavam em algo e que o seguiram até ao fim. Pessoas imortais, que conseguiram ultrapassar as regras da vida e da morte através da arte.

Hoje vivemos na época das telenovelas, dos reality shows, das tecnologias, do crime, do terrorismo e, apesar da Arte se apresentar perante a nossa sociedade, a tendência continua a ser para a menosprezar e, ainda por cima, afirmar que já não existem portugueses como antigamente. Mas, pergunto eu, porquê minimizar a arte? Porque já não a valorizamos? Porque não ressuscitar épocas douradas em que nomes portugueses eram grandes em todo o planeta? Se se investisse novamente na arte como em tempos idos, grandes portugueses sairiam da penumbra, glorificando um pouco mais este país esquecido e adormecido. Porque não ressuscitar a arte? Porque se deixa a arte morrer?