Daqui a uns anos vou estar morta,
Vocês têm que ter essa consciência
Quando vos peço para me deixarem
Ser livre. Daqui a uns anos já não importa,
Já não vou estar na adolescência.
Já não vai interessar o facto de me abraçarem
Eternamente com medo de me perder.
Porque daqui a uns anos poderei
Fazer o que quiser. Que interesse tem
Poder ir sempre para onde me apetecer
Se não há ninguém para dizer “Eu confiei
Em ti e deixaste-me ficar bem”?
É por isso que vos peço calmamente
Que confiem e não tenham medo
Porque há muito que não sou criança.
Confiem em mim no momento presente
E eu prometo estar de volta mais cedo
Do que imaginam. Não lutem contra a mudança
Porque aprendi dificilmente que é inevitável.
Sei que algumas vezes vos desiludi
Mas se pensarem bem, não foram
Quase nenhumas. Tenho uma admirável
Resistência à tristeza e sempre cri,
Mais que vocês, que o dinheiro não
Interessa. Vocês sabem que sou feliz
E que vos amo, independentemente
Dos bens materiais que não puderam
Dar-me. E acreditem que a raiz
Daquilo que sou foi grandemente
Influenciada pelo que não me deram
E que os outros pais deram às outras crianças.
Raramente vos pedi que me dessem coisa alguma
E quando o fiz, foi apenas por necessidade.
Por isso, dêm asas às minhas esperanças
Não sejam responsáveis pela queda de mais uma
Das minhas expectativas de felicidade.
Percebam… Percebam por favor
Que o tempo passou, que eu já cresci
E que esta oportunidade eu mereço.
Façam-me esta vontade, por louvor
A Deus… Percebam que já aprendi
E que sempre vos respeitei, com apreço.
Eu percebo que vocês tenham medo
Pois apenas me têm a mim. Mas preciso
Mesmo de me libertar e de ir explorar
Este grande mundo, para que nenhum segredo
Ele mantenha e para que seja conciso
O meu conhecimento. Tentem não pensar
Que algo terrível poderá acontecer
Porque isso não está nas vossas mãos.
E não pensem que não tenho nenhum temor,
Porque eu também temo o decorrer
Do tempo e todas as suas bênçãos
Ou maldições repletas de dor
Que me esperam. E estão já ali adiante,
Vou encontrá-los assim que conseguir
Ultrapassar este obstáculo que vocês
Me estão a por. Vou levar a minha avante
E na estrada da Vida vou prosseguir.
E quando chegar ao meu destino direi “Vês,
Nada de mal veio ao meu encontro.
Deparei-me com algumas coisas menos boas
Mas que são necessárias para aprender.”
Por isso, Helena, não anseies pelo reencontro
Com lágrimas nos olhos. E Rui, as pessoas
Não têm culpa de que eu tenha de crescer.
Eu vou, seja hoje, ou amanhã, ou ainda depois,
Vou realizar os meus sonhos e desejos.
Mas preferia, com toda a certeza, ir hoje ainda.
E preferia que soubessem e me abençoassem, pois
Custa-me deixar-vos sós, sem os meus gracejos.
Percebam que tenho de ir agora que o dia finda…
3 comentários:
LINDO LINDO LINDO! :D
pais, ai os pais.
eu sou aquele anónimo (rodrigo)
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