sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Our undoing isn't necessarily our end

    Toda a gente tem medos. Uns mais comuns e repetitivos, aranhas, cobras, os ladrões, a morte. Uns mais estranhos ou menos frequentes, minhocas, estores fechados, a vida...



    Nos últimos meses tenho vivido aterrorizada com a perspectiva de que o resto da minha vida seja para sempre em Setúbal, cidade que sempre me deitou abaixo e à qual fui obrigada a regressar, pelas fatídicas vicissitudes da vida. 




    Parece ridículo como um lugar pode afectar tanto uma pessoa, como o ambiente que me rodeia é capaz de se entranhar nos meus ossos, de me infectar como um parasita que se alimenta de mim enquanto me destrói. Como cada atitude deplorável e entristecedora que vejo a cada passo me corrói, como cada palavra lançada por lábios ignorantes, egoístas e auto destrutivos ecoa no meu cérebro ao ponto de querer arranca-lo e esfrega-lo numa lixa bem forte para remover todas as imagens ultrajantes que lá ficam gravadas diariamente.

   Como dói ver uma cidade cheia de seres que se boicotam uns aos outros pelo simultâneo desejo de serem melhores que os outros, mas todos iguais, de serem os mais benfeitores, os mais trabalhadores, os mais honestos, os mais originais, os mais honrados, enquanto são os mais traiçoeiros, os mais intriguistas, os mais quezilentos, os mais calões, os mais interesseiros, os mais oportunistas, os mais preconceituosos, os mais ladrões, os mais egoístas... Mais, mais, mais, querem sempre mais. Mas nunca é mais sabedoria, nem mais felicidade, nem mais cooperativismo, é simplesmente mais do que o vizinho do lado.

    No meio de toda a angústia e revolta que me inundam por estar aqui apercebi me de algo: foram precisamente estes sentimentos perante este lugar que me criaram. Foi esta mágoa constante que fez com que nunca me sentisse em casa e sempre quisesse lutar por outros "mais" diferentes dos que por aqui se anseiam. Foi do meu sofrimento e desalento que me me inventei e germinei na pessoa perseverante e lutadora que sou. Apesar de depressiva, pessimista, trágica e ansiosa sou ainda mais teimosa em crer em algo mais do que o presente. 

    Aqui nasci, sofri, vivi, cresci e aprendi a ser como sou e a não pertencer. E se foi aqui que tudo começou, não será aqui que acabará. Este local, este momento, não serão o meu fim. Reunirei outra vez toda a dor, resiliência e persistência e construirei com elas a mais intrincada cota de malha que me permitirá não só sobreviver mas, um dia, vencer.

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