Eu tenho cinquenta, cem, mil casas e habito tantas cidades quanto a minha imaginação pode abarcar.
Porque a minha imaginação não dorme, a minha mágoa não cessa, a minha procura não conhece limites.
A minha vida é apenas procurar. Fernando Pessoa diz que fez dos sonhos a sua única vida, eu fiz da procura a minha única vida, porque os meus sonhos são sempre a busca por algo que não existe e, muitas vezes, por algo que nunca existirá.
Vivo dentro da cabeça de milhões de indivíduos que vivem dentro da minha alma sem que eu os controle ou os conheça a todos. A minha mente é dominada por um grupo de carpideiras que gritam, ansiando por algo que não têm, e os seus uivos nunca cessam...
A procura é para mim um sentimento, outro que aprendi a aceitar e a controlar, como tive de fazer com tantos outros para poder sobreviver. É algo de inevitável e intermitente que se acende e apaga dentro de mim e que, de cada vez que renasce, leva com ela parte de mim, escombros do meu ser que se desvanecem nas chamas.
Porque há anos que desapareço aos pouquinhos, há anos que me desvaneço, que ardo, que me decomponho. Sou um cadáver vivo, que respira e sonha e almeja por muito mais.
Sou um cadáver, mas, por mais sombria que seja a minha existência, por mais inútil e insignificante que seja a procura, tenho em mim mais vida do que a maioria dos vivos que vagueiam pela terra em busca de coisa nenhuma.
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