quarta-feira, 1 de julho de 2009

Shhhhhhhh...

O silêncio...

Consegues ouvir o silêncio? Já alguma vez o ouviste? Não!

Acredito que poucas são as pessoas que já realmente o ouviram. Eu também ainda não o tinha ouvido até há pouco. Calamo-nos, mandamos calar quem nos rodeia e tentamos ouvi-lo, mas ele não está presente para ser ouvido e o pior é que acreditamos que está.

Na cidade, assim como na minha mente, o ruído nunca cessa, mesmo quando se pensa que sim. Calo-me e penso no silêncio mas, rapidamente, algo surge e dá um sinal sonoro da sua presença. Quer seja algo real e palpável, no mundo lá fora, ou algo dentro da minha mente.

Os sons da minha mente são os piores. Se fechar os olhos, consigo esforçar-me e iludir a minha mente ao ponto de acreditar que as ruas estão silenciosas, os vizinhos estão silenciosos, as estradas estão silenciosas, mesmo que por breves instantes. Mas não consigo isolar-me dos sons da minha mente, dos pensamentos, das palavras, da música pouco harmoniosa e confusa que toca incessantemente dentro de mim. Concentro-me, esforço-me ao meu máximo mas apenas sinto a frustração de querer algo que não existe, de estar a lutar contra algo que é impossível, algo que não é natural, algo que sei que me traria paz mas que tenho a certeza que nunca alcançarei.

Durante anos acreditei que não era possível calar a minha mente, que nunca conseguiria atingir o estado pleno de paz, que nunca conseguiria alcançar o silêncio de que precisava cada vez mais para viver. Precisava de me concentrar, de me abstrair, de ganhar novas forças para novas ideias, novos projectos, novos começos. Todo o dinamismo dentro de mim estava a sufocar, a endoidecer, atordoado pela confusão, pelo barulho, pelo movimento.

Agora, tudo mudou. Já o ouvi. Alcancei uma das coisas pelas quais almejava ardentemente, uma das coisas pela qual o meu ser me macerava as ideias, implorando, rastejando e gemendo “silêncio, silêncioooo”. Consegui encontrá-lo, afinal existe, e não exige nenhum esforço herculeo da minha parte. Quando menos o esperava encontrar, quando já o considerava uma causa perdida ele apareceu e tomou-me de uma vez, prostrando-me aos pés da sua grandiosidade.

Quando não o esperava, encontrei-o e ao o fazer, tal foi a sua naturalidade e singelidade que nem o senti. Movida por uma força maior que eu, caminhei sozinha, sentei-me na terra e comecei a apreciar as estrelas, como sempre fizera, mas algo era diferente. Olhei em volta, nada se mexia, não parecia existir nada de fantástico à minha volta até que me apercebi do que se passava. Era o silêncio. Nada, nada, nada... Nem um som real ou imaginário para me atormentar.

Deixei-me estar, sem pensar em nada, sem me aperceber de quantos minutos passavam nem do que me rodeava, só via as estrelas e usufruia do silêncio, maravilhada com a sua imponência, atingindo um completo estado de nirvana e permitindo que este clarificasse a minha alma.

Não voltarei a ouvir o silêncio tão cedo, mas sei que ele existe e sinto a minha mente mais calma e renovada pelo poder que aqueles momentos tiveram sobre mim. Ainda consigo senti-lo, consigo imaginá-lo...

Shhhhhhhh...

Deixa o silêncio apoderar-se de ti...

Shhh...